terça-feira, 19 de maio de 2009

Poesia de Eduardo Alexandre Miranda Pinto

O marfim
que o silêncio medita
no canto interior da paz
inclina assim
o que em ti crepita
nesta linha que jaz, e
fazia colar ao rubro
tão de si esquivo,
a voz com que te cubro

No tenso senso que me arqueia
O dom e o som que me recreia
À beleza e destreza do sorriso
Um cintilar e um luar de aviso
Nós no mel e na pele com gosto
O carisma e o sofisma do mosto
A sombra e a pomba aqui
Voando e dando asas a ti

Faço o meu totoloto na banheira
Cristo!
Enganei-me na torneira
e quase morto do deslize com ela,
Maria saio da cela,
lá fora outros sangues
fiz-me a ela
mas a donzela nos seus estanques
quis-me ao contrário.
O carácter que é o meu vinho
avança com o seu salário,
eu muito torto e sozinho
pergunto à Escócia
-As cruzes já acabaram?
Não tens sócia, não é?
Que bem que estavam
a Baixa e a fé
quando acordo,
já estava na Sé
digo que sim, bato o pé
e os outros continuam a mandar na Terra
-Socorro a mim!

N nu foste tu
que em Janeiro
entraste primeiro
em notícias de nada
quero-te pois aí
em volta de ti
em adeus de estrada
e se assim voltar
prometo remendar
como anjo em cio
o sorriso e o frio

o seu cabelo estende-se
como inspiração do dedo ao braço,
debaixo do seu corpo
curvam os suspiros
que a melancolia desencarcera,
tal folha subtil plana como quer

pequena solidão
tenho uma voz irmã
e quase rouca diz não
como uma maçã
que não tem alvo
como uma fórmula que eu salvo

O tacto ao vento horizontal
reergue-me à leveza,
e meu corpo defende-se
do tapete que voa
contigo em delírio
assim que as folhas
assinalam a correcção da cor

Tardo-me na necessidade
da tua saia
para que esta verdade não caia
ao Tejo, onde te roubei
para que fosses minha
porque ainda te sei
e quando estás sozinha

Vou pela cor do teu beijo
soletrando flor
e o músculo tal realejo
solta-se a teu pedido
em volta real
mesmo que cedido
como o mar e o sal

Sinto o abraço melancólico
que me ofereces quando nos encontramos
pensar que és tu que atrais a solidão
quando sou eu que sorrio para ela
e tu e eu somos partículas
somos doces
quem dera sermos nós
um princípio feliz

Quando te assobio
a meio do rosto,
é porque o rio
é alvo bem disposto
do teu seio frio,
e uma história franca
detém loucamente forte
a beleza da tua anca
talvez a minha sorte

Ó a tua cara interna
abre-se em ócio delicado
e o piano entoa-te,
tu abotoas-te
eu no albabeto-mistério
na ordenação desse lugar
congrego-te etéreo
e o tempo a suspirar

Quando te tilinto
em voz de sorrir
quase finto meu aflijir
e quando rouco
me lembro do teu seio louco
o mais belo membro que eu sei fingir

Entreabro o frio
concebo o cio
pranto de mel
linha fiel
um a dois
corpos pois

Mas eu e tu
A querer o nu
Podendo planar
Chegando o ar
Que se move
Em meia nove
E é caminho
Este carinho

Que entre o ventre
conquanto ele se centre
ao avanço feliz
do halo em foco
que fértil coloco
ao que se diz
de um corpo de amor
que não tem horas nem langor

Não te olhava a cara
pensava nas tuas palavras
e o tempo, invisível
tece e tece
exercitando o destino,
e a dança de todos os teus gestos
guardei-a ali para mim.
A ingenuidade traiu a vida
mas essa tua latitude
é superior em benção,
e eu quero os teus pontapés
e esse teu amor

Páras em todas as estações
sabes de ti eu sei
no teu campo de calor
terno e viriático.
Dou-te a minha alma
se no sono não morreres,
Amigo!
O sangue orquestra
um silêncio desnudado
e o teu abraço
é singular
como o coração

A lista limão
em mão anónima
passa, corre,leva, recolhe
da língua delicada que a lua alheia
quis escolher
para leito letal.
Ferro qual queijo brincalhão
quis pertencer à atitude
e então fino, muito fino
já em vantagem
morreu despenteado.
No calcário onde gastou todos os riscos
naquela rua
naquele jardim
onde dormiamos sentenciando ao destino
e colados ao silêncio

A retroescavadora
quase deseja os quartos de luz,
como sentimento de suór
à luz anavalhada
e amua em tesouro fluór
eu, a canalhada
e a cor que é tua

Nas redondezas do arvoredo
saímos como luvas
fosse-me teu, o peito cedo
cedo como as chuvas
e gota a gota fossemos universo
que pende da calha para o assobio
que o cantar do verso
me centra no folhear do teu cio

Na plataforma das sombras
germinam passos em articulação
com o brilho que o calendário da alma
sugere no abandono do lugar
e o desassossego coincide com a luz
que atenta mete neste estigma
procria céus de licores,
ingeridos pelo sangue dos outros

Fosses sempre nocturna comigo
em labaredas tuas caminhando
e meus olhos arqueando o doce perigo
da tua anca ao umbigo
e vivas à sucessão solar
que te dormito em pensar
do livro à folha e ao grampo
onde te soltaste livre pelo meu campo

Do crisântemo a palmos de sossego
até ao vasto eco de lençol em paz
a quem na nudez lhe escrevo,
há um olhar em obelisco que aqui jaz
o abrangente coração sem urgência
de se demorar de cigarro na mão
sustém em sentido toda a contingência
que procura o segredo da sua intuição

O tece-tece do lar
sossega como seduz
lá fora o broar
que o silêncio deduzbaixo e horizontal
a cada braçada
nasce como sinal
a semente lançadae perto do dia anunciado
irmanando o movimento
de um universo remadosomos como o invento
novos no céu sem dono
unidos num justo sono

Os berços aglomerados
num gesto sem adeus
paisagem sonora
onde o teu deus
os tem guardados
como eu e tu, outrora

O sustento dos teus olhos
cumpre o amor
em alunissagem e sem gravidade
todo um dever a quem me olha
porque num dia assim
não preciso de chorar
pois concedido o fôlego
o meu caminho ganha coração

Nu subir do nevoeiro
há quem levante saias
confluência em primeiro
e em seguida todas as catraias
latem ferozes pela sua voz
querendo calar a outra alheia
no descer do corpo a sós
e entra uma nova ideia

Dolente tédio de ânsia
que primaveril entra chegando
pela primeira estância,
glacial o ar casual que amando
já somos dois ternos a cavalo
sabendo indolores da saudade
que parte a estalo
e se revela como a nossa metade

Sorrir a palmo dado
do orador que ladra de gravata
sem que o laço da voz do fado
quisesse um amor de poente à estrada,
onde caminha lado a lado
para onde vão os brandos costumes
para que durma selado
aqui nos altos cumes

O desempenho que late e urdindo
quando a semente sequaz da vida
quer verter rugidos dormindo
por sobre teu rosto de benção querida,
então na dicotomia de te vestir, despir
engenho a viagem ao sul do sono
sendo tu um mar de rumo a seguir
e a norte de uma folha de Outono

O que o sorriso disse doce
antes que o lábio se fosse
e nós tragamos teu sonhar
terra de balanço a navegar,
quem nos visse assim
fosse um dito sim
acenando ao terminal
onde partias mais o sal

Quis o soldo da troça
ser modo de jogo suado
quem levou a dita coça
foi o modesto pente molhado,
ele viu-se comigo na leitura
ontem no nosso sopro ao som
sempre que a brisa depura
e põe meu peito no tom

Onde o sexo te curva
entre espelhos sem adeus
o olhar sente, turva
como as nuvens entre os céus,
estás em ti como sabes
eu na linha do poente
cristalizo estas verdades
em corpo docente

Qual régua, qual trégua
assim medindo a pele vossa
eu alinho no berço de égua
e queira a visão ser nossa,
é o querer de traje que sente
que a porta de luz é feliz,
pois foi um amor em mente
e é o nome que o diz

Ao lençol te soletro
no tecer de bruma
assim aqueço-me mais certo
da colheita que de nós é uma,
a noite rola, entra o sol posto
e quem se tomou no leito
sorriu ao cálice bem disposto
quando a vida é um número feito

Quando logo agora
e até já aqui
começa a nossa hora
em volta de si
e o amanhecer diz-se
com um dia bom e real
e a noite quis-se
e o leito tão conjugal

A guarda do medo
incita, palpita aromas
ao passo que do credo ledo
o coração late somas
a quem o tempo sobeja,
pende o tique-taque ainda destro
e quem assim nos beija
aluga os braços ao senhor maestro

Da volta da noite que se fecha
um qualquer som voraz
abre o sonho que se lhe deixa,
e um sentir de corpo sagaz
sob o manto, ante ela
sossega no mordiscar à orelha
no ritual desta parelha

Dou folhagem à tenra idade no fuso
outrora da montanha que me fez
e agora sou mais que uma curva do Luso
e calco nuvens em união farta e de bela tez
ainda que o amanhecer as veja comigo,
tenho-te guardada em lugares diversos
como pernoitar no teu umbigo
escrevendo folhas de versos

Ao intuir de um regresso
fonte inacabada mas serena
de tom funcional em retrocesso
que no compêndio desta pena
segue por nenhum desdém
a quem escrevo e a que escrevo
pois como escuto,também
sou a fuga do trevo

Regresso à tensão
que no jardim anoitece
e eu por aqui em ascensão
de vocação em tece-tece
que da oratória se une
e se presta a que fume
e deixe meus braços no leito
entoando o pensamento feito

Joana vocaliza
o acto que cristaliza
da causa solene
soerguendo o eme
de mulher de ouro
e eu segrego
esse primordial tesouro
que visito como cego

Em regresso aceso
de forma conceptual
que o desejo ligeiro, sem peso
seduz este caso plural
de vezes sem conta e por fim
chegando muito cedo, traçando
à memória deste sim
seguindo a sua forma e assobiando

Tenho um amplo cursor
que sonda o rumor
deixando a retina aqui
quando acolá decidi
ser amigável no condimento
que se chega ao momento
de soltar esta fricção
com o curioso pensamento
em variante do coração
passageiros desse vagão

Por artefactos úteis
espero informação
das falas fúteis
que por consideração
me entregam em valor
a demasia que se perde
por um calor
que herde
o géiser valente
e procrie paciente
a luz solitária do meu quarto
que se inspira em metade de quatro

E quando me chamam
tomando meu nome pelo sorriso
a essas horas que se clamam
há um fôlego impreciso
que se prontifica em prolongar
a beleza da imagem e do som
junto ao teu rosto em tom
em planos intensos de aqui estar

Sinto nos pés descalços
a ramagem que pende
como os travões sem calços
que aqui se entende
como a aterrisagem
da atenção sem sonífero
que por subversão agem
com o florir frutífero
do que é ponto de rebuçado
em estado menos mal educado

No tenso senso que me arqueia
O dom e o som que me recreia
À beleza e destreza do sorriso
Um cintilar e um luar de aviso
Nós no mel e na pele com gosto
O carisma e o sofisma do mosto
A sombra e a pomba aqui
Voando e dando asas a ti

Por um fórum
do amplo dédalo
um quorom
ainda incrédulo
do sereno convite
que me passas
para que eu acredite
no que faças
logo que amanhece
e é nesse teu fundo
que escuta quem desce
ao que há pelo mundo
que o enigma enumera
a imagem de toda a quimera

Prolongo-me nos teus cabelos
investindo meu olhar
que a pele quis tecê-los
comigo em jeito de acariciar
como quem segura o alívio
de uma nudez saciada
e eu tive-o
contigo na resposta dada

No enlace que um mistério abraça
em balanço de vento
e o volume da graça
que uma árvore oferece
com quantas folhas ela tece
e o que ainda cintila
é o perfil do olhar que aí se desfila

Seguindo a solene idade da terra
no odor inteiro da reviravolta
deitando mãos ao que aqui se erra
um pouco de mansidão nesta volta
sem que o mar se cale
comigo para que eu fale
e escutando o canto do perfume
que um amor resume

Iludo-me por ela
para me tornar seu
sim pela flanela
não pelo que sucedeu,
então solto mel e leite
cozinhando não sei que deleite

O gesto localiza o tacto
e logo o silêncio branqueia
o que torna o gelo compacto
e o sino da aldeia,
perde-se por nós
mais que uma dança
o sinal da tua voz
em mim balança

Um desenho vivo
caminha com a nuvem
eu esperei-a doce
e a nuance fez do branco
um invento que dança
dou-te as boas vindas
não te vás

Gosto de tocar
no alambique do meu tio
e lembrar em faro
onde andam onde vão,
os sensíveis
para recuperar o tacto
toco na barriga da minha perna
para cima e para baixo
deixando o pensamento fazer o que quiser dela

A fleuma de um Louva-A-Deus
concisa como um beijo
tomando o ar que eu revejo,
na sua honra de lar
a jus foi ficando
como cruz alternando
dizendo-lhe concreto
que era o meu sim
ao seu alfabeto

Se a tonalidade entrar
como uma chave que pensa
leio com o ar
respiro sem licença
abrindo à cor
uma força de foz
onde desagua a dor
e fica a tua voz

A noite é branca em si
o sono sua tarefa
é suspiro talhado
é neblina pensante,
então abre-se um pensamento satisfeito
e o corpo cumpre a sua tarefa

Há cor em tudo o que vejo
uma desordem natural
há em ti algo de belo,
apesar de seres diferente
o atrito não é negro
apesar de seres silêncio
eu sou a cor
é isso que me fascina

Quase fútil
o doce que subtil
não fosse
réptil no desejo
e o cortejo, Sofia
quase mel
ia pela lua

Pensei-te como degelo
num apelo que urge
na vontade ao teu cabelo
que em mim surge
quando adiante a isto
levanto o choro
é o que eu visto
quando tu és ouro

É boa noite para a rua
ninguém a pisa
a sombra do dia anterior
não ousa resgatá-la
pois ela é atenta
como a caneta
quando escreve, gosto de ti

O decote em vulto
entra a trote
em ira de culto,
e a primeira sorte
da saia que sorri
pelo uso da nudez,
que quase esqueci
quando te vi à vez

Habito a tua crina
numa graça de exílio
que o sono de verão devolve
ao alfobre do meu corpo,
este auxílio esperado
prostra-se como estátua,
eu entro nela desajeitado,
e de lá fumo festivo
a sombra que não existe
e toda a pele livre

Quero visitas ao jantar
encadeando o jardim devagar,
diz o céu rubro
seduzindo a minha caligrafia
que eu cubro e se desfia
ao longo da frente sem dor,
o meu elmo não tem hiberna
tem cócegas,
digo-te eu Leonor

A herança pasma o susto
da pedra que não rola,
firme e a custo
unem-se com a viola
em frases de dedos
que cumprem o dia seguinte
e vemos nos penedos
o céu pedinte

Tenho um dedo
que na sombra do ar
desenha o teu lugar
e desde cedo
sempre que o sonha
a lembrar a cegonha,
na tua pele na minha hora
na linha do mel e da aurora

Quando normal
sinto-me estranho
como um caudal
que não tenho
Este leito boceja
e intranquilo insiste
muito ele deseja
mesmo que triste
Ora sorri do alto
ora chora do fundo
mas sei que não falto
em nada do mundo

Se o teu branco igualar
o rumor de musa
que o Chiado ouviu falar
na frente lusa
ainda que trágica
a contar de inverso em diante
estará em alma mágica
o teu amante

No tenso senso que me arqueia
O dom e o som que me recreia
À beleza e destreza do sorriso
Um cintilar e um luar de aviso
Nós no mel e na pele com gosto
O carisma e o sofisma do mosto
A sombra e a pomba aqui
Voando e dando asas a ti

Solene volver do umbigo
Anterior ao alfabeto interior
Sereno decalço-te como amigo
Experimento poemas e silhuetas
A que a madrugada me concede
Ando em livros e estatuetas
É meu lar que se mede

À volta do osso do ombro
Cabia desempenho à vez
Fosse deste encaixe ao escombro
O devolver rubro que se fez
Que o paladar saudoso
Vai merecendo repouso
Logo no amanhecer mais vida
Hoje durmo com a tua pele vestida

Com o volúvel eco do lençol
Conquanto me creia pansexual
Havendo calmo sossego de sol
Oceanos, cumes e passo espiritual
No foco activo e atento do sémen
Posso-me como possibilidade natural
Sendo o artífice que artilha sons que tremem

Tenra saia de voz clara
Cais em uníssono brando em jeitos de cantar
Na descida do nevoeiro que parte à nossa hora
Tens o hábito fresco no parapeito dos lábios
Olhas e recreias-te assim
Em balanço que me envolve
E a pausa nobre e activa do teu nome
Aquece, florescendo no meu coração composto a tempo

Para insinuante te fincar o lábio
Nunca to disse, és ímpar de mim
Pródigos em ler o olho sábio
Que afirma sem dizer que sim
Beijo superior à decisão do yo-yo
No adeus de plataforma o coração
Dá de si em quem diz quem sou
Somos par do às volátil na mão

Agora, recordando em aplausos à antiga Lisboa
Leva esta canção nos teus braços, para melhor sentires
O mel da chegada que partiu em sumiço que me soa
Um logro de escolha para lá dos víveres e devires
Começamos o exercício de amar em português
Olha o movimento dos olhos, ó alma olha bem
Lembra-te dos primeiros passos na tua tez
Que fiquem dispostos na fala no calor de Belém

O dourar do teu membro
Na póstuma glória erguida
Ímpeto plano quente
Por ser eu que o lembro,
Quem cresceu à partida
Delgado ao teu ventre

Ricochete a molde de xisto e água doce,
no papel fértil que une alfobres a cegonhas
ilustra a estanho quem estranho me fosse
ao apetite da luz, sorriem as terras que sonhas
o entardecer dá de si em árvores a vento
ó se cantasse como o cuco quem seria na hora
um nicho que sabe do seu vivo invento
e acocorado auguro nunca de ti ir embora

Serias livre uma vez refeita
Do osso na areia sob o mar
Ficar em segredos de colheita
Levar o gracejo ao caminhar
Somos amigos de lençol
Abrimos distância mais perto
É noite em ampulheta, em sol
Creio no tom a descoberto

Penso no teu peito
Feito maior e doce
E sorrio suspeito
Se meu fosse

A vagar de insólito palpite
Quis favorecer a saia que dança
Por mais que te descubra e crepite
Tenho sem posse o que te avança
Ao imóvel espanto que ruge
Canto em mim o que surge
Lendo minha sombra mais aqui
Que a curva da letra é para ti

A vagar de insólito palpite
Quis favorecer a saia que dança
Por mais que te descubra e crepite
Tenho sem posse o que te avança
Ao imóvel espanto que ruge
Canto em mim o que surge
Lendo minha sombra mais aqui
Que a curva da letra é para ti

Moças sorridentes à luz
Dizem ao dia olá por fim
Quem nunca sorriu foi Jesus
Devo abençoá-las em mim
Eu tolero toda a nudez, a idade
Quem me quis:
As minhas oliveirinhas de cidade,
que num largo feliz
Faziam estas curvinhas

Que diria Emílio
Se me tivesse
Que diria Virgílio
Se cartas houvesse,
Agora que escrevo
Versos a ninguém
Espero um trevo
Em mim, entre cem

Assumo a lucidez no cuidado,
que sensível de estar bem cintila
A atenção ao meu peito quente,
de rapaz corajoso que se ventila
em halo espirituoso (ele que entre…)
À extensão frágil de um sonho
Tenho um colossal sorriso livre
E como se sorvesse medronho
Ainda me espraio no que tive

Enunciada do vapor
Sai para se enumerar
Ela a mim em calor,
A senda saudade a par
Num transporte avulso
Quer o silêncio dormir
Mas deduzindo seu pulso
Andámos em poses de sorrir

À máscula solidão nascem dentes
um recrutar ao degelo, à ternura
alguém clama teu nome e sentes
no sim perfeito entras assim pura
e olhas como nunca aos teus dias
diante da fonte e do realejo agora
estás de saia turquesa e serias
tu quem chama resplendor à hora,
arqueias o corpo, a mim avanças
nas ancas que brincam e mansas

Ana no teu voo rosa,solta o cabelo
das juras que faço por teu corpo,
dentro dócil ágeis, venham vê-lo
em tacto enchem o jardim de sopro.
Assim nesta anunciação nua
corre o sininho, o realejo, o sol
escuta estás em mim na minha rua
eu aceno fogo e equilibro com o fole

Do dedo caído oposto a mim
No refrear a um coração bom
Pensei serem bainhas de jardim
Onde hoje não estás como tom
Coso à mão coordenadas leves
Tens uma árvore firme e tua
Terás tempo que me serves
Estou numa draga sob a lua
Abre o vértice central, memoriza
Todo um mero filho que flutua
Diz comigo quem me cristaliza
No regaço em alertas de ti nua

O que meu punho penteia
à ventura de correio alado
serve meu pensar de alcateia
no uivo preciso e prateado
tal palavras e ouro fundidos, e
se despertares meus desejos
devagar, estes serão lidos
com um vértice pleno de beijos

No devir da cegueira
há uma ironia em torneio
como olhar uma fogueira
que pede a esse langor, um sorteio
temos clima para dormir
somos tempo de baloiço
erguendo a prece que não pode fingir
toda a noite eu a oiço

O socalco tinha livro em ira
Um dia preso a uma roda
Desceu à foz que dele ser rira
Pois quem de quente moda
Pede nuvens casadas
Braços se abrem em colosso
Para que eu suba às casas caiadas
E guie meu lábio no teu dorso

Daqui a lide é oferta de peito
tenho a flor sensível da voz
junto ao rosto no parapeito
que a janela é singular de nós
E há um feito do olhar à hora
quando algo se fixa na noite
nos dá algo que ainda chora,
sendo este pensamento um açoite

A cisma em volta de um mergulho
focado aos céus é parte do ente cem
o facto de a girar pelo orgulho
será próximo de mim em alguém
O número do resgate não dorme,
quando o teu mundo se move aqui
e passas por luz de fumo informe
sim o ideal passa o amor para si

No meu sonho de tacto um amor
Tal cego tentei seu rosto
Sempre esperei muito ó sabor
Bárbara, bela e de porte composto
No sono do 1º de Outubro
Que fé terá a nossa mesa de granito
Agora sem a viola ao rubro
Vejo-te sempre, entraste em grito
Dou alvíssaras aos sinos
Se a cada badalo seguro de si
Mudar as passadas e os hinos
Credo de um tempo em ti

O lugar do beijo é colheita
Do alfobre sem roupa à vista
O amor enche a carne estreita
O que ele tem de capa de revista
Sabem as esmolas de igreja
Entram em silêncio sacudido
Para que mais tarde a cerveja
Não seja voz de lábio encolhido

Muito sobre ti
Assim que fui
Mesmo o que eu li,
Como tu, flui
Sendo por aí
Que as coisas são
E tu e eu em si
Querendo em vão

A cada nome manso, um lençol
que abre folhas de mil prantos
na frieza do canto mudo do sol,
cobrindo e sendo convés de tantos.
Para que em bolina se penteie a dor
no regaço da mulher que inspira
assim eu serpente ao corpo trepador
e no desleixe perdido da sua ira…

No dorso que te era estranho
Ao largo duma luz prudente
Estive dentro de ti, no teu castanho
Dos olhos e afecto, tu meu ente
E sobrava elegância e cuidado
Onde os passos firmes giravam
A palmo, a medo alado
Enquanto giram ainda dançavam…

Com o asfalto a pensar na relva
estendo-me numa avenida livre
febre em fenda de embalar selva
que conciso na redenção a detive
no meu cocar dou a meiga prece
ao cigarro que nada diz cá dentro
que a tua roupa interior cesse,
e nada podia ser sol de maior centro

Tens um jeito de foco sensível
qual gesso inscrito nas pernas
nos modos de te ser invisível
agora são para ti flores internas
Mas para além da sedução viva
guardo e velo viagens de novo
quem bem me quer que se sirva,
que eu vejo campos como o corvo

Ó a tua cara interna
abre-se em ócio delicado
e o piano entoa-te,
tu abotoas-te
eu no albabeto-mistério
na ordenação desse lugar
congrego-te etéreo
e o tempo a suspirar

Pelas montanhas que destro armei
aos ombros maçicos dos penedos
velo-te esta noite porque vos sei
vivemos em diferentes segredos
mas na alma há um forte flutuar
concisas as coisas de ser e estar
entre a voz que da trincheira sai
e meu largo elmo que em ti cai

Chegado à tua terna clareira
honro o que sorriu em voz
daqui a ela uma luz matreira
sendo maior que a foz
cintila o brilho de partir
ao horizonte que se espelha azul
do poente que nos faz sentir
nós no beijo temos norte e sul

No amor tatuado, como que colado
No culminar de um todo unido
Sendo saudade em estado admirado
Ela que provém de um rugido
É capaz de chorar comigo
Porque sou seu amigo
Por agora em espelho ancorado
Ao longo deste sopro beijado

Por qual dos sonhos ainda vivo
Pouco deles sei, quando evoluir
É a canção que sigo
E no fluir
Que enumerou um dia diabólico
Sendo meu por fastio melancólico
E ficar latente no desejar
Na dobragem do humor a espernear

Clamor em voz pendendo na hora
Dentro da linha que se une em paz
Abaixo do oceano, porque agora
Estamos propensos ao que jaz
Sentinelas ausentes do devir
Do esplendor que ferve por sentir
E desta soma de querer deduzir
Um tudo nada mais para seduzir

Uma soma de acervo florido
secetamente sustendo este rumor
que acalenta um pensamento crescido
decerto mantendo seu humor
e a validade da paisagem
seguindo eu em viagem
é a subtracção
que se revela por intuição

Na diabrura confusa
sem máscara de confronto
ou ilusão lusa
silhueta de rua ao ponto
que sente muito rente
revelando a fé no amor
e velando seu canto
num passeio que tanto
é vida como rumor

Deslocando a temperatura do desespero
ao vector que vistoria seu tempero
incessante a quem de seu prato come
inspeccionado pelo olhar e conforme
a idade do olhar que a barriga tem
na bolsa de oxigénio social do bem
e quem a chama a si, é seu vulto
num trote que se mascara de culto

Que a cifra se cinja
opulenta pela ginja
opúsculo com músculo
sebenta de água que tenta
no passeio com quanto
temos de espanto, conquanto
se espairem os odores da noite
e as suas palmas são seu açoite

Podem pisar meu solo
quem no meu tempo colo
e sinto com o gatilho
colocados na verve de meu trilho
e despoletam o coldre em sossego
levantando minha ira por apelo
na perpétua efígie informe do vosso ofício
que na vossa latente infâmia clama por este exercício

Late o deserto em liberdade
tão prolixa pelo céu sem idade
e pelo choro da água
sai esta marca de mágoa
que cai ladeando qualquer vedor
que em tímpanos e sedução em louvor
rearranja os sons interiores
com que nos fazemos por sabores
de um véu tão saudoso como a infância
que pára sempre em cada estância
e o sonho vence porque saber perder
eu que no pensamento sou duro de roer

Um nico
Um cibo
que estico
em recibo
deste folho
a que olho
assim são
na tua mão

Diz-me do vento
se nasce contigo
balança volvendo
o que és comigo
sem a saia
ela que caia
como a linha tua
quando estás nua

Onde afoito me pertenço
em questões avulsas
exclamando muito tenso
estas vozes convulsas
que existem menos que eu
e da ascensão à tese
induzes esse sinal teu
onde está a minha ascese

Em par diante
centro andante
do teu eu
sendo seu
abre, entreabre
este gume
neste sabre
do teu lume

No encalce de ti nua
nuance sem neblina
voz e pele tua
vento que te sublima,
danças comigo agora
em corpo enlaçado
tronco trocado
ao relax despido
de vigor lido

Minha Ónix em dança
Sorrindo com tua trança
Da alegria rara e intensa
Viagem de rota que pensa
Do amor e do seu advento
Fomos par e fulgor em cada momento
Outrora e agora em singularidades
De lábios que fincam estas saudades

Uma neblina que não perturba
à moça que daí suba
nota que o infame sol
se esconde como queijo mole
que a lua trinca como a raposa
e eu e a moça somos lousa
que lhe escreveu com leitura
de uma perícia quase pura

O abrigo do teu nome ao relento
calca pelo tacto este rebento
como a carica lançada com mestria
e estamos bem juntos na cortesia
que ampara a esperança deste novelo
seguido pela retina que no apelo
deseja este mundo mais manso
e nesse belo canto não me canso

Pelo recreio, junto ao pátio cimentado
uma viva correria em livres braços
num tanto de querer um acto perfumado
e tu chegavas a mim sempre em abraços
na brincadeira de trono cego
como uma paragem ao teor do ego
e assim pelo receio deste tempo
somámos nosso acervo que no desejo, é um contratempo

Subi assobiando o músculo destro

Como que de uma intuição a que me presto

Surgida por tempo concentrado

E à aventura, um baptismo de fogo

Quando a liberdade seguia minha alma

Para nunca deixar ceder pela calma

Chegando à diferença onde não há jogo

Há um adeus regular e punho que sobe

À canção, ao céu, que soletrando aqui se move




No rastejar de um sino corrido a punho

Embalam muito os pasquins e afins

Que no beijo à boca pelo mês de Junho

Tem a cereja em águas a eles e sem fins

O que quero é sobejar na poda do Vê

Pois o cálice da soberba sensação lê

Isto como o que visto para me sentir

E assim de dedos afinados, afino sem me escapulir




































No cruzar de uma voz escarlate

Como que esperando meu sonho

E da força que assim tanto late

E onde toco como assim ponho

O amanhã agora no coração

De um sagrado nascimento

Tal a união da jura e do sentimento





Com um pensar localizado

Inseguro no sustento

Toma do acto entregue, dado

Uma veia que assobia por alento

E o correr a pradaria e a clareira

Do sopé onde teus olhos negros de mel

Sorriam à vez por seres também estrangeira

Ladeando-te o olhar em louvor da tua pele







É sempre a tempo que te encontro dentro

No lance interdito com que te centro

Em cada suspiro ovacionado e certeiro

Entre nós górdios que o mesmo carteiro

Desbrava, e sendo os anos, a fonte de valores

Não diria que estás por aqui sem dores

Como no primeiro de Abril

Onde estivemos dois por mil









Acima do pasmo ilustrado, o ser e estar

Quando o sorrir se estende elástico

Pela areia no teu braço aqui por amar

E por ser aurora, estimo estar

Em ameno cisma de tronco nu

E o espelho és sempre tu



Do repouso avulso a pulso conciso
Do porém como sorte a trote liso
O vinque cortês ao decote de Novembro
Que se rala por ascender para membro
Da anca enrolada a mim, eu que te sigo
E as giestas fazem as festas que a ti consigo







Tine a dedo fino como vasto
É o tacto pela sebenta
Unida ao tempo gasto
Empregue de alma atenta
Pelo ocaso, pelo que me lembro
Ao olhar esse teu membro
Que sugere no que te despes
E de ti tenho o céu com que te vestes





Com tanto querer
e ser tarde
agora no enaltecer
do meu alarde
eu tenho sinais
cujo sono adormece
na leitura a mais
de quem se tece



Passar apenas por anos de luz
Enumerando o nome e a identidade
Polindo a voz que me seduz
Quando no descanso da felicidade
No poleiro de um zilião de passos
O nó górdio recebe a verde
Toda a singularidade dos teus traços
Segregando a batida desta sede



O teu requinte urdindo
Como que pedindo
O que o tenho em mim
E como aceno assim
Digo-te que ainda vou
No alfobre que em ti sou
E se meço o que intuo
É a tua rasura sem amuo



Que o cipreste se defina
Como uma sensibilidade
Que corre muito fina
Podendo ser a tua idade
Que define ao que nasceste
No horizonte que escreveste
Quando eu estava detido
Fervendo este coração ido



Suave poente que me emanas
Sou como tu nas mesmas chamas
Caio por gosto para depois voltar
Em combate seguro de pensar
Cá por terra nos assuntos do céu
Voa com esta visão de véu
E o paladar mergulha ao que sois
Bisando a porção que nos une aos dois




Olho-te em máscula pose de ataque
Tendo certo como dose, nenhum saque
Segurando muito bem tuas abas ao léu
E levantado de teu céu
Primo-te num meu delicado agachar
Revolvendo o que por aí possa achar
Para que qualquer vida venha sem nevoeiro
E nosso leito seja tal como o amor, o primeiro





Unção sem benção algures
Eu pela terra de quimera em nenhures
Volvo solene ao ar perene,
Um soslaio sem desmaio
Que ao folhear cidades e gentes
Logro cerrar dentes
Na fileira muito matreira
Como o calor de uma fogueira





Em redor da almofada
Dormitando o que penso
Em gotitas de enseada
Sem dor ou censo
Firmando-me no horizonte
No deslumbre unido à ponte
Que secreto me diz bem
Ao que faço por cem



O eixo e o laço unindo forças reais
enquanto na rota do silêncio
escutando o canto dos demais
ao que sonho, bem o sei
por pensar no pouso desta lei
e uma paragem erma, ergue-se como sinal
se houver também tempo de glória
em cada luz cíclica e anual
ao ritmo de cada história





Dou-te um lenço e um acenar
pois quando te penso, sigo-te a assobiar
porque tenso a isto e passeando
no arqueio pela tua postura, se a pensando
para aterrisar em plano fértil
num sol benigno para nós e para o réptil







Dióspiro pacato no toque primeiro
Em tenra fruta tão viva como a truta
E contra a corrente somos também Ulmeiro
Para que o alimento venha como luta
Do que sobeja, do que se gasta ou como se trabalha
E tens o reverso na caligrafia do fogo e sem mortalha
Que enrole o fumo de equipa
Pois olha quem fica
É a metáfora barricada no timbre do selo
E nós por vantagem distraída, tropeçamos neste novelo


Chegaste do lado que alma fosse
E cedo vinhas com fala doce
Partiste e bela como nossa voz
Agora de amor sem sua foz
Suspiramos em anseios vários
Nos tons contrários
Que a tonalidade posterior a isto
É a pele com que te visto





Recentes subliminares arfando
como ar que se escuta
no sopé do leito amando
nuns corpos em dinamismo de luta
para fluxos que a resina a mando
sabe fazer correr e poderosas
estas margens de manobras sui generosas




Achei teu cabelo
como pétala sensível
era muito o apelo
a mim, invisível
e tínhamos este foco
um altar florido
onde te toco
neste sonho muito crescido

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